A linguagem gestual do Yôga
Mudrá é a linguagem gestual do Yôga. Têm sua origem na ancestral tradição tantrika, e tanto o Yôga quanto a dança clássica hindu, o Bhárata Natya, deles se utilizam.
São usados no Yôga como chaves, selos ou senhas, para penetrar determinados setores do inconsciente coletivo (o qual armazena todos os conhecimentos e feitos da Humanidade desde seus primórdios).
No ádi ashtánga sádhana (a prática completa em oito em partes) o mudrá é o primeiro anga, a primeira parte da prática. É o gesto reflexológico, simbólico ou magnético feito com as mãos.
Em nosso organismo, eles atuam por associação neurológica e condicionamento reflexológico. É interessante observar que a maior parte do nosso aprendizado é feito por observação, imitação e repetição de condicionamentos. Isso esta muito bem fundamentado no trabalho do fisiologista russo Ivan Pavlov, que ficou conhecido por seus estudos sobre condicionamento e influenciou a psicologia do comportamento humano Foi ele quem enunciou a teoria do condicionamento clássico, baseado em seus experimentos com os cães.
Nós temos reflexos inatos, como o instinto de sobrevivência que em uma situação de perigo nos faz reagir para salvar a vida, e os reflexos condicionados, que são adquiridos pela repetição de uma experiência. Por exemplo, em um filme de suspense onde sempre que algo assustador vai acontecer entra uma trilha sonora específica. Aos poucos basta a trilha sonora para que se desencadeia um sentimento de medo.
O insconsciente coletivo
No estudo dos mudrás, é muito fácil observar a atuação dos gestos através de reflexos condicionados. Por exemplo quando você sente subir a adrenalina por um mudrá provocativo ou os hormônios sexuais por consequência de um gesto erógeno. Aí está a associação neurológica e reflexo condicionado.
Durante milhares de anos a linguagem gestual é utilizada para comunicar e expressar sentimentos. Todo este acervo vai se acumulando no inconsciente coletivo. Deve ser por isso que em épocas diferentes, hemisférios diferentes, culturas e etnias diferentes, os mesmos gestos são observados com os mesmo significados:
Quando indicamos que alguém deve “pensar na vida”, nós o fazemos apontando o dedo indicador para a cabeça.
Quando queremos nos referir a um gesto erógeno, utilizamos o dedo médio.
O dedo anular para unir casais.
Quando uma situação está bem, costumamos levantar o polegar para representar o fato.
Força e poder são diretamente proporcionais a ancestralidade
Um gesto que existe há milhares de anos, repetido inúmeras vezes por yôgis no mundo todo, conquistando o estado de consciência almejado, tem muita força e poder no inconsciente coletivo. Quando iniciamos uma prática de SwáSthya Yôga, queremos estar mais atentos, concentrados e receptivos. Assim, colocamos as mãos em uma determinada posição e buscamos conscientemente entrar num estado mental que esteja de acordo com essa intenção. Após a repetição diária desse processo, por condicionamento reflexológico, chegará um momento em que não precisaremos mais passar por todo esse protocolo. Bastará colocar as mãos na posição escolhida e pronto! Já estaremos mais receptivos e concentrados.
Foto: Vilson Ferreira
Simbólico, reflexológico ou magnético
Dos 108 mudrás sistematizados pelo SwáSthya Yôga, apenas alguns tem atuação reflexológica ou magnética, a maioria tem atuação puramente simbólica. Como o próprio nome já diz, simbolizam algum objeto: animais, flores, sol, lua etc. Estes gestos provêm do tempo em que o ser humano tinha muito mais contato com a natureza e a representava no dia-a-dia por meio da movimentação das mãos, ainda nos primórdios da criação do Yôga Antigo.
Como vimos o mudrá é um dos oito angas da prática, entretanto, os mudrás podem e devem ser usados em todos os angas, não apenas nesta primeira parte da aula, pois potencializam o efeito de todas as demais técnicas. Procure cultivá-los com sensibilidade e dedicação, cravejando-os em sua prática diária e, com muito mais empenho, em seu treinamento de coreografia.